segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Alberto Knox

Eu gosto de andar. Desço a rua com as mãos nos bolsos. Meus pés conhecem a direção que minha mente perdeu. Meus olhos olham atentamente o nada que surge a cada passo. É incrível como o mundo gira sem mim. Parece tão irreal.

Paro na esquina e observo os carros passarem. Não quero atravessar. Seria bom andar um pouco mais do lado de lá, mas antes eu quero ver os carros passarem. Quero ver a vida vivendo. Uma criança correndo. Um velho chorando. Uma roda parada. É tudo tão irreal.

Olho as horas, mas não pra ver o tempo passando. Só gosto de ver os dígitos mudando. O homem vencendo. Somos mesmo muito espertos não? Temos relógios digitais. Bombardeamos cidades em pássaros de aço. Brincamos de bomba-pega. Escolhemos raposas ao poder. Pagamos impostos. Comemos meleca. Será tudo irreal?

Gosto de ficar aqui no alto do prédio. Gosto de olhar as nuvens. É como se elas subissem um pouco mais. É como se fugissem um pouco mais. Gosto de olhar pra baixo também. Ver os insetos trabalhadores. Muito ocupados pra contemplar a vida. A Terra. Homens e suas caixas com rodas. Homens e seus sapatos caros. Roupas amassadas. Óculos sujos. Cara manchada. Não sei mas, pareço tão irreal.

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